domingo, 12 de dezembro de 2010

Especial - Michael, o Álbum


O Rei do Pop parcialmente pelas mãos dos outros...

Após 9 anos do lançamento do álbum Invincible, o último álbum de canções inéditas do Rei do Pop, recebemos neste mês de Dezembro um novo projeto. O álbum póstumo Michael. Tal álbum foi cercado de polêmica por muito artistas e fãs que acharam um desrespeito canções de Michael Jackson serem lançadas sem seu consentimento e o fato de familiares de fãs não acreditarem que parte dos vocais contidos nas canções não sejam originais. Eu pergunto se a Sony ou qualquer outra gravadora conseguiria trabalhar com o nome Michael Jackson sem causar tanto alvoroço - basta lembrarmos que na primeira versão da capa do novo álbum, aquele símbolo escroto que o Prince adotou como nome aparece sem motivo nem autorização.

Como infelizmente Jackson não conseguiu lançar seu esperado novo álbum nem conseguiu sua grande despedida dos palcos, resta aos fãs ouvir a série de álbuns que estão por vir. Projetos novos e antigos do Rei do Pop que por algum motivo não puderam ver a luz do dia.

Farei uma breve análise de cada faixa do álbum e depois sobre o próprio num contexto geral.

1 - "Hold My Hand" (com participação de Akon)


A faixa de abertura do álbum e também escolhido primeiro single. Escrita por Jackson, Akon e outro escritor adjunto, Giorgio Tuinfort, esta faixa estava programada para fazer parte do álbum Freedom, do Akon e também estava nos planos de Jackson para ser o primeiro single de seu próximo projeto - isso, de qualquer forma, aconteceu.

Esta canção é mais ou menos do tempo em que estava sendo produzido a edição comemorativa de 25 anos do álbum Thriller. E, assim como boa parte do que foi feito nesta nova versão do álbum, "Hold My Hand" soa um tanto fraca, sem ter a força e inspiração esperada. E isso é perfeitamente explicável tendo em vista a quantidade de pessoas que meteram a mão nestes projetos.

Um dos motivos de "Hold My Hand" não ter tido um grande desempenho nas paradas dos Estados Unidos (#50US) é que a canção já havia sido vazada na internet em 2008. Ou seja, teve uma grande rotação pelas rádios e ficou conhecida pelo público. Fora que a participação de Akon não ajuda em absolutamente nada - a impressão que tive é que MJ queria dar uma força pro Akon, permitindo que eles trabalhassem juntos, tamanha falta de expressão no trabalho do Akon aqui.

O vídeo-clipe inclui imagens de arquivo de Michael em shows, fotos com partes do Akon e outras cenas aleatórias.


2 - "Hollywood Tonight"

Esta foi escrita por Michael e Brad Buxer, compositor com quem MJ já havia trabalhado em outras ocasiões. Contém um beatbox feita por Jackson na introdução (uma de suas especialidades) e uma breve participação do produtor Teddy Riley. Não há muitas informações sobre esta canção por aí. Os vocais de Jackson estão um pouco contidos, aparentemente para dar destaque para a produção musical. Nos resta imaginar como seria esta canção se ela fosse verdadeiramente trabalhada por Michael, sendo moldada do jeito dele.

3 - "Keep Your Head Up"

Aqui temos um alvo polêmico. É a primeira faixa do álbum onde a veracidade dos vocais é questionada. Muitas pessoas acusam a Sony de colocar os vocais do cantor Jason Malachi no lugar dos de Michael Jackson - a semelhança entre as vozes é realmente impressionante, mas ainda sim existe uma mínima distinção. Talvez por Michael não ter terminado esta canção ou a demo não ter os vocais completos, os produtores da faixa resolveram complementar/preencher a canção com os vocais de Malachi imaginando que ninguém iria notar.

Fãs já se apressaram e fizeram vídeos onde são feitas comparações vocais entre Jackson e Malachi: http://www.youtube.com/watch?v=b9Q3dkZDVns

4 - "(I Like) The Way You Love Me"

Esta faixa não é novidade alguma para quem é fã de Jackson. A única novidade aqui é que a canção foi retrabalhada para o álbum Michael. A canção, escrita por Jackson, já havia sido lançada no box The Ultimate Collection, de 2004, juntamente com outras canções não lançadas anteriormente. A diferença principal é que a versão do box tinha mais cara de versão demo, enquanto nessa foi aplicada uma produção mais acentuada. Dificilmente será escolhida como single por não ter a representatividade necessária para tal.

5 - "Monster"

Os rumores envolvendo o nome "Monster" já vêm de muito tempo atrás. Mais ou menos em 2003, 2004, não lembro ao certo, este era o nome cotado para o novo álbum que Jackson estaria produzindo na época. Que talvez tivesse se concretizado se Gavin Arvizo não tivesse feito as falsas acusações de abuso sexual contra Jackson que culminaram em um julgamento em 2005 onde Jackson foi inocentado e Arvizo e sua mãe foram desmoralizados perante o juri com sua contradições e inconsistências nos depoimentos.

A faixa tem mais a cara de alguns momentos de Invincible, podendo ser material que ficou de fora da seleção final do álbum ainda contém a participação de 50 Cent que já havia sido cotado para trabalhar com Jackson em algum outro projeto (que finalmente acabamos de descobrir qual é).

6 - "Best of Joy"

Uma baladinha mais tranquila que me lembrou "Break of Dawn", porém esta é uma pouco mais contente. Uma canção simples e bonita que acabou sendo uma das últimas canções que Michael gravou, em 2009 (ano de sua morte). Apesar de ser uma canção bonita, acredito que tenha vindo parar neste álbum justamente por ter sido um dos últimos projetos realizados por Jackson - e possivelmente o melhor deles.

7 - "Breaking News"

O maior alvo de controversas com certeza foi esta faixa. A primeira do projeto Michael que foi apresentada ao público e que até foi liberada on-line. O grande problema dela é que, assim como "Keep Your Head Up", não dá para ter certeza se os vocais são realmente genuínos, se Jason Malachi não foi utilizado aqui para cobrir alguma parte da letra que ficou faltando.

A faixa tem a cara do Rei do Pop e a participação de Teddy Riley aqui é facilmente notada. O produtor de Invincible tem um estilo de produção autoral e deixa isso bem claro aqui. Pena que realmente não dá para confiar muito na Sony. É Michael Jackson ou não é?


8 - "(I Can't Make It) Another Day"

Esta faixa tem um trecho vazado na net pouco depois da morte de Michael, depois de um trecho de "A Place With No Name" (uma versão de Michael para o clássico da banda America, "A Horse With No Name"). Foi amplamente divulgada por ser um trabalho feito com Lenny Kravitz. Kravitz, que negou ser o responsável pelo vazamento, citou que trabalhou na produção da faixa e que tocou todos os instrumentos. A canção era pra compor o álbum Invincible, mas assim como várias e várias outras faixas, acabou saindo do tracklist. Kravitz então retrabalhou a canção e a lançou em 2004 sob o nome de "Storm", com participação do rapper Jay-Z.

Esta música me lembra um pouquinho o single vazado "Xscape", de 2002. A participação de Lenny mal é notada e os vocais de Jackson se mostram fortes como nunca. Um pouco mais de foco e esta canção poderia ter sido um hit pelo menos moderado nas rádios. Ainda contém partes vocais da canção "2 Bad" do álbum HIStory.

9 - "Behind The Mask"

A canção "Behind The Mask" já é na verdade bem rodada. Tudo começa com sua criação em 1979 pela banda Yellow Magic Orchestra, de Ryuichi Sakamoto. Em 1985, o tecladista Greg Phillinganes lança sua versão que teve partes na letra adicionadas por Michael. Por fim, em 1986 Eric Clapton lança sua versão Rock da canção. A versão de Phillinganes tem partes alteradas por Michael porque era intenção de Quincy Jones que esta canção fizesse parte do tracklist do álbum Thriller. Michael gostou da ideia e então gravaram a canção. Porém uma batalha legal impediu que os planos de Jackson e Jones fossem adiante. Desde então a canção passou pelas mãos de outros artistas.

A versão de Jackson, além da letra modificada, está bem diferente da original ou das versões de Phillinganes e Clapton. E talvez seja por isso que Ryuichi Sakamoto (ou seja lá quem detinha os direitos comerciais) tentou impedir o lançamento desta canção. De qualquer maneira, esta versão perdeu o impacto rocker que tinha e deu lugar a uma versão mais, digamos, "World Music", mais Pop mesmo. Ficou bem a cara do Rei.

Ou seja, notem que esta é uma gravação da época de Thriller.

Versão da Yellow Magic Orchestra, de 1979: http://www.youtube.com/watch?v=7DSue36BpH8
Versão de Greg Phillinganes, de 1985:http://www.youtube.com/watch?v=lHz1P6NGMCw
Versão de Eric Clapton, de 1986: http://www.youtube.com/watch?v=4N8GbyF4OcM
Versão de Michael Jackson, de 1982: http://www.youtube.com/watch?v=rRo-KsR5aJY

10 - "Much Too Soon"

A faixa que encerra o álbum também foi gravada durante a produção do álbum Thriller. Antigamente, fãs que sabiam da existência desta faixa imaginavam se tratar de alguma demo da canção "Gone Too Soon", devido a semelhança no nome. É uma canção bem tranquila e acredito que Quincy Jones tenha achado que ela destoava demais do clima do álbum - e se por um acaso foi isso que ocorreu, ele estava inteiramente correto. Escrita por Michael.

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No final das contas não é novidade nenhuma em dizer que este álbum acaba sendo apenas mais um veículo para a Sony ganhar dinheiro. Um dos maiores sonhos dos fãs é conhecer o imenso arquivo musica de Jackson, que deve ter gravado tantas canções não lançadas durante sua carreira que poderia ser lançado um álbum por ano por um bom período. Mas a coisa toda aqui acaba soando falsa e pretensiosa - do jeito que sabemos que Jackson jamais permitiria que acontecesse.

É triste, mas é a pura verdade. E se a Sony continuar sendo tão idiota, podem esperar por mais gravações inéditas de... Jason Malachi.

AMR - Indestructible (Robyn)

Indestructible é o 1° single do álbum Body Talk, da cantora e compositora sueca Robyn .

Alcançou, até o momento, um modesto #30 nas paradas Dance do Reino Unido.



O começo da carreira de Robin Miriam Carlsson , ou simplesmente Robyn, é muito semelhante ao de atos dos anos 90 como as Spice Girls e P!nk (inclusive com quem parece até fisicamente), com hits como Show Me Love e Do You Know (What It Takes), pautados no dance pop e a sua mistura com o R&B, que na época era oportuna. Essas canções não são exatamente clássicos, mas fizeram sucesso na época - o que nos leva a pensar como uma forma de música pode perder o sentido com o passar de apenas alguns anos (as duas canções datam de 1997).


Capa da edição americana de seu primeiro álbum, Robyn Is Here

A coisa começa a ficar realmente interessante na metade dos anos 2000. Em 2005, Robyn lança seu próprio selo, a Konichiwa Records, que tem como objetivo principal lançar trabalhos da artista. Tudo começou com uma briga entre a cantora e sua antiga gravadora, a Jive (Britney Spears, Justin Timberlake), que não curtiu muito o som voltado para o electropop da faixa Who's That Girl, do álbum Robyn, também de 2005. Vale lembrar que o estilo virou tendência de 2007/2008 em diante, impulsionada principalmente por uma cantora ítalo-americana, que diz ter se inspirado do electropop e dancepop europeu! Podemos estar nos deparando com uma das precursoras do movimento do pop atual - mesmo que esta não tenha lá carisma o suficiente para usufruir dos seus enormes lucros.

Indestructible é exatamente a continuação dessa onda que se evidenciou desde 2005 no trabalho da cantora - e que finalmente a agraciou com uma identidade.



A canção parece tratar da união de dois amantes e uma possível dificuldade que a interlocutora teria de se relacionar com as pessoas certas - que é o caso de 90% das pessoas que eu conheço. É bonitinha, mas nada demais nesse sentido. Interessante é que o arranjo - baseado em sintetizadores - dá um tom dramático e sério, coisa difícil para canções nesse estilo ; há também a presença de um violino, que ajuda a quebrasr um pouco o clima lúdico de outros trabalhos da cantora, como Fembots e Konichiwa Bitches.

É uma canção não muito mais do que adequada, mas indicada para quem queira curtir um pouco do pop do velho mundo - que, ironicamente, acabou invadindo os Estados Unidos e se tornando o pop do mundo inteiro.

Vídeo-clipe :