sexta-feira, 2 de julho de 2010

AMR - A História de Lily Braun (Maria Gadú)

Análise: Quarto single do álbum homônimo da cantora Maria Gadú.


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Primeiramente, vamos desvendar a origem de Lily Braun!

A canção foi composta por Chico Buarque e Edu Lobo para um espetáculo musical em 1983 - baseado em um poema de Jorge de Lima, datado em 1938, gerando uma turnê. O musical era algo bem diversificado, misturando poesia, balé e teatro - dentre vários outras vertentes artísticas. Foi uma turnê muito bem sucedida, com público total de 200 mil pessoas em quase 200 apresentações, englobando até mesmo outro país, Portugal.


Na trilha-sonora lançada, "A História de Lily Braun" é interpretada por Gal Costa. O projeto inteiro contou com a participação de artistas como Milton Nascimento, Simone, Gilberto Gil, Tim Maia e Zizi Possi. Gente de peso, projeto de "responsa"!

Em 2009, a canção foi resgatada por esta revelação da MPB, Maria Gadú - que apareceu bastante com o hit de estréia, "Shimbalaiê". Gadú, com seus 23 anos, tem uma voz bonita, apesar de não ser tão distinta. Ela já interpretou o clássico "Ne Me Quitte Pas" (que se encontra seu disco de estréia) e até já trabalhou com a cantora Ana Carolina.

É simplesmente impossível analisar este trabalho de Maria Gadú sem compará-lo a versão original de Gal Costa e também sua versão interpretada pelo compositor da faixa, Chico Buarque. Logo me vejo obrigado a fazer uma tripla análise. Então vamos primeiro analisar as versões de Maria Gadú, Gal Costa e Chico Buarque, respectivamente - e fazendo as devidas comparações.

Maria Gadú


Maria manteve aquele clima meio blues, meio jazz que permeia as duas versões anteriores. Uma das diferenças é que aqui o clima da canção é cadenciado, ou seja, tem um clima mais ameno, mais traquilo - adaptado ao estilo vocal de Gadú. Aliás, todas as versões nos fazem imaginar aqueles bares dos anos 30 - ou qualquer época relacionada. É algo realmente diferente na MPB atual, o que não deixa de ser irônico: algo distinto na atual MPB é na verdade um resgate da antiga MPB tendo como base um trabalho de um consagrado músico do estilo - com o detalhe de ser um projeto de uns 26 anos de idade!

Gal Costa


Bem... Gal Costa é uma consagrada cantora, considerada a melhor em território nacional. Ou seja, pode parecer um grande covardia compara-la com alguém no comecinho como Gadú, mas vamos lá. O o clima aqui já é um pouco mais movimentado, lembrando velhos clássicos do jazz. Somando isso a grande e graciosa voz de Gal Costa, podemos dizer que isso poderia mesmo ter sido composto em épocas antigas, tipo uns 50 anos atrás - e sim, isso foi, definitivamente um elogio. Buarque conseguiu fazer um reinvenção de estilo, assim como Gadú conseguiu tirar o pó de cima consideralvemente.

Chico Buarque e Edu Lobo


Como boa parte dos compositores que escrevem e compõe para outros artistas ou projetos, Chico Buarque fez a sua versão para seu trabalho. A letra criada por Chico Buarque e Edu Lobo tem aquele charme e mistério exigidos para tal projeto. Buarque é um bom intérprete, isso é tão incontestável quanto o título de melhor cantora do Brasil que Gal Costa ostenta. Mas que é muito estranho um homem cantar uma letra com uma protagonista, isso é! Chico e Edu cantando coisas como "[...] o homem dos meus sonhos [...]" e "[...] disse que meu corpo era só dele aquela noite [...]" soa realmente estranho. Me lembra quando Barry Gibb, do Bee Gees, tentava interpretar, com sua banda, canções que eles fizeram para cantoras como Samantha Sang e Barbra Streisand - o resultado final era um Barry um tanto sem graça modificando a letra "I'm a woman in love" para "you are a woman in love". Claro que neste caso, não tem como fazer qualquer alteração, nem de gênero.

Enfim, Gadú teve o mérito de fazer um bom trabalho com material reciclado - material de primeira, diga-se de passagem. Obviamente que algo bom e de valor artístico como este não recebeu tanto destaque nem foi single oficial (apenas um promo). No final das contas: ponto para a Gadú...