quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Prós/Contras Divas 6 (parte 3): Madonna

Leia também: Prós/Contras Divas 6 (parte 1): Madonna


Níveis


1 - Obra-Prima
2 - Muito Bom
3 - Bom
4 - Aceitável
5 - Ruim
6 - Créeuu

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Prós/Contras Edição Extra!

Na penúltima parte do especial Prós/Contras da Madonna, acompanhamos sua introdução aos anos 2000 e seus ali completados 20 anos de carreira. De uma certa maneira, ela esteve mais comedida nesta década, tentando um tipo de som mais sério até acabar enveredando para o Pop tresloucado e puramente comercial. Os resultados apresentados não são tão bons quanto os das duas décadas anteriores, mas mostrou que ela conseguiu se consolidar relativamente bem suas raízes musicais no mundo.



Music!

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Music (Nível 3: Bom)


O primeiro single de Madonna saído de um álbum de inéditas se mantém como seu único primeiro lugar nas paradas norte-americanas e o último de sua carreira até agora. A música também agitou as pistas da Inglaterra, Canadá e Itália. Madonna e Mirwais Ahmadzaï (produtor e compositor especialista em Electronica que foi trazido para o mainstream por Madonna) produziram e escreveram o single que, curiosamente, foi uma das várias vítimas do então inovador e jurássico Napster, meses antes do seu lançamento. Isto despertou a ira de Madonna que saiu em campanha contra o programa juntamente com outros músicos.

A canção tem uma batida até que atraente e estimulante para as pistas de dança. Porém parece que algo fica no meio do caminho. É como estar numa montanha russa, subindo bastante e, na hora de descer com tudo, a coisa não acontece como esperado - apenas uma descida mais calma e morosa. Apesar de Mirwais Ahmadzaï ser um cara mais entendido do ramo, a coisa toda não saiu com todo o potencial que - talvez - pudesse ter tido. Uma parte da voz da Madonna é condensada por efeitos. Aliás, este projeto lhe rendeu duas indicações ao Grammy - Gravação do Ano e Melhor Performance Vocal Pop Feminina. O que é surpreendente...

O vídeo-clipe é relativamente comum, com uma participação de um cara muito conhecido na Inglaterra porém estranho para o Tio Sam. O personagem Ali G, criação do humorista Sacha Baron Cohen (que viria a ficar mundialmente conhecido por fazer de trouxa justamente o Tio Sam com seu personagem Borat e depois com Brüno). Ali G é o motorista da Madonna e no vídeo aparecem cenas como Madonna se divertindo com amigas num bar de stripper com... mulheres dançando semi-nuas. Apenas para não perder o costume...

Bem sucedidos #1US e #1Uk.


Don't Tell Me (Nível 3: Bom)


Nesta canção, Madonna e Mirwais Ahmadzaï (sim, ainda ele) trouxeram o que podemos chamar de Country Pop. De fato, não é algo que se ouve (ou quer se ouvir) todos os dias. Mas o fato é que esta música é algo um tanto quanto intimista, o que traz um tom um tanto inovador. Afinal, não dá pra imaginar o Willie Nelson, por exemplo, fazendo este tipo de malabarismo estilístico com o gênero musical favorito dos norte-americanos. Esta canção, em sua maior vantagem, é um projeto mais sério e centrado que "Music" - o que nos faz tentar um esforço para levar a sério.

A parte intimista da canção é interessante atrativa. O Country costuma ser algo meio repetitivo e muitas vezes sem personalidade, mas aqui ele é maquiado pela máscara Pop, sobrando-lhe apenas referências breves como uma progressão de acordes de violão e um vídeo-clipe (muito bem feito, ainda mais para um vídeo que tem mais de 10 anos!) onde um pouquinho da cultura cowboy é mostrada. A voz da Madonna está soando muito bem aqui - o que pode ser um indicativo de que talvez a vida em Nashville pudesse lhe fazer bem musicalmente. Bem, esqueçam esta última parte, vai...

A canção fez um grande sucesso também, tendo o single vendido mais de 4 milhões de cópias. Talvez a escolha por um caminho diferente tenha sido essencial para tal resultado. Interessante também a voz da Madonna soar mais limpa e, de forma alguma, prejudicial ao conjunto.

Talvez injustos #4US e #4UK. Talvez pelo menos um top 3 para este.


American Life (Nível 4: Aceitável)


Aqui está a primeira tentativa de Madonna de fazer trabalho mais sério, mais conceitual, com mais consciência social para o mundo. Obviamente que, para uma artista que trabalhou praticamente sua carreira inteira em cima do marketing e da música fácil, não seria algo simples de se fazer digerir. E não foi. Apesar de ter sido relativamente bem acolhido, o single "American Life" teve um desempenho apenas modesto nos Estados Unidos (o álbum, apesar dos pesares, chegou em primeiro). Se comparado com projetos anteriores, foi como uma ducha de água gelada (não para os fãs, talvez, mas para a comunidade musical em geral).

O clima criado por Mirwais Ahmadzaï já começa a mostra algum desgaste, um caminho já trilhado no álbum Music, mas que ainda sim soa interessante, tem seu interesse. A voz de Madonna está consideravelmente desfrutável - tirando um momento em que ela faz o que podemos chamar de rap, algo que ficou meio fora de hora e/ou lugar.

O vídeo-clipe tem algumas cenas chocantes mostrando consequencias de guerras (as vítimas) e o que seria um desfile de moda com esta temática. Madonna aparece ora como alguma oficial do exército, agora como sei-lá-o-que. No final, de cima de um blindado, ela joga uma granada que cai na passarela - e existe uma lenda que diz que a ideia original era de que esta granada cairia nas mãos de George Bush (seria uma bomba muito bem utilizada), mas foi cortada da edição final. No fim, o vídeo foi censurado e substituído por um onde Madonna, ainda vestida com farda, cantada enquanto várias bandeiras de países passaram atrás dela.

Um #37US (o que mostra que muita gente aí voltou no Bush) e um #2UK.


Link da versão posterior: http://www.youtube.com/watch?v=LYduJw5LyFM

Hollywood (Nível 4: Aceitável)


Com o single "Hollywood", Madonna conseguiu um feito há muito não alcançado: seu primeiro single a não figurar no top 100 nas paradas norte-americanas em 20 anos. A intenção é que Hollywood fosse mais comercial que o single anterior, com uma temática diferenciada. Mas no final, temos algo um pouco banal (melodicamente falando). Lembra bem uma daquelas faixas que servem para preencher o vazio de um disco - e que acabou sendo colocada como single. Ao meu ver o que mais ajudou na difusão desta canção foi o remix feito para a gigante GAP. A canção conta com a participação de Missy Elliot e foi mixada com "Into The Groove". Este remix era apenas para a divulgação da marca citada, mas acabou sendo extendido e lançado em um álbum (no caso, Remixed & Revisited) e não foi lá muito bem recebido.

Bem, devo dizer que esta versão remixada com algo que já existia antes (tipo, quase uns 20 anos!) ficou mais palatável e audível que a versão original. Não que Missy Elliot ajudasse em algo, mas é que o clima frenético e dancante de "Into the Groove" é bem mais interessante e estimulante que a batida meio intimista e sintetizada de "Hollywood". O fato de querer soar mais acessível que "American Life" é bem aceita, mas a teoria acabou ficando meio distorcida coma a prática.

O vídeo-clipe não tem lá muito atrativo, tendo como atrativo maior um processo vindo de um fotógrafo chamado Guy Bourdin, que acusou Madonna de roubar referências artísticas de seu pai. Aqui está um exemplo.

Então, surpreendente #2UK.


Love Profusion (Nível 2: Muito bom)


Esta foi uma real tentativa de Pop, de algo mais acessível e comercial. E deu certo, finalmente. Apesar de ter sido um single ignorado nos Estados Unidos, foi razoavelmente bem na Inglaterra e Canadá. Teve seu lançamento atrasado na terra do Tio Sam (2003 nos países citados e 2004 lá) para coincidir com o lançamento do perfume Beyond Paradise, que utilizava a canção em sua propaganda. Mas acabou sendo o terceiro single do álbum American Life a ser desprezado pelo povinho do hamburger (a faixa-título foi a única que conseguiu alguma atenção).

O uso acentuado de um violão e a despretensão com grandiloquências em efeitos especiais e mensagens humanitárias mostrou-se uma boa fórmula para agradar aos ouvidos. Não que os ditos artifícios antes citados sejam algo proibido de se fazer, mas esta canção ilustra bem como nem sempre são necessários para uma obra - que, aliás, podem até desviar do foco principal. Apesar de a voz de Madonna ter melhorado muito desde o início, eu poderia apontá-la aqui como um possível problema. Mas no geral está ótimo.

O vídeo-clipe foi dirigido pelo francês Luc Benson (responsável por grandes filmes como a série Carga Explosiva e 13º Distrito e sua continuação, 13º Distrito - Ultimato) conta com muitos efeitos especiais e é muito bem dirigido. Excetuando algumas partes que acabando deixando exposto um pouco do seu artificialismo devido ao excesso de computadorização gráfica. Um dos vídeos mais interessantes de sua carreira, deixando para trás em vários milhas os últimos produzidos.

Um #11UK vindo da terra da Rainha.


Hung Up (Nível 3: Bom)


Bem, Madonna atestou que fazer músicas mais sérias, usando o coração, querendo passar uma mensagem, não adiantava como algo para mover sua carreira. American Life não foi tão bem quanto ela imaginava ou quanto ela (ou a gravadora) queria. O que fazer num casos destes? Simples. Dizer "dane-se" e fazer música Pop e descartável, pois dá mais dinheiro e promoção artística. No final, ela viu que este negócio de conduzir a carreira fora de polêmicas picantes não dava em nada. E então, sob esta premissa, Confessions on a Dance Floor foi concebido. Pena que outras canções boas foram usadas como escada para o sucesso do álbum. E vemos isso por este single, que sampleia o clássico "Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)", do ABBA, 1979. O que deve tirar - e muito - os méritos desta canção. O esqueleto da canção criado por Benny e Björn salvou o single da Madonna e com certeza isso deve ter irritado fãs ferrenhos do ABBA.

No geral, só dá pra dizer que a canção é boa por causa da intervenção, por assim dizer, do ABBA. Como eu já disse, os méritos da Madonna são mínimos e, se tem alguma utilidade, é de servir como um referencial - para que fãs de Madonna e o pessoal de hoje em dia que tenha ouvido isso acabe despertando algum interesse em ouvir uma banda tão interessante quanto o ABBA. Tendo sua imagem restaurada e um recorde no Guinness Book (por chegar ao topo das paradas de 45 países), Madonna deve (e muito) ao pessoal lá da Suécia.

O vídeo-clipe faz referência ao filme Embalos de Sábado à Noite (a roupa que Madonna usa) e tem também cenas com praticantes de parkour (sendo um deles Sebastien Foucan, um dos grandes referenciais do esporte).

Os Estados Unidos acharam legalzinho mas nem tanto. #7US lá e um #1UK.


Sorry (Nível 3: Bom)


Esta faixa dançante tem o mesmo detalhe de sua precursora: deve boa parte de seus méritos à outros artistas. Neste caso, a linha de baixo do single "Can You Feel It" dos Jacksons foi usada como base para este projeto. Ou seja, um pouco daquele feeling, digamos, esperançoso que a música de Michael Jackson e seus irmãos traz . É tipo "sentar nos ombros dos gigantes". A Madonna, neste caso, pulou dos ombros do ABBA para pular nos dos irmãos Jackson. Isso sim que eu chamo de fórmula para o sucesso - é como fazer tudo 2.0...

De qualquer maneira, a canção de fato agita as pistas, faz o pessoal se mexer. Cumpre bem seu papel. E ela para basicamente aqui...

Um #58US pra #1UK. Uau!


Get Together (Nível 3: Bom)


Aqui está uma das melhores canções do álbum. Num clima diferente das outras canções, num tipo mais Ambient Music com Dance e os vocais da Madonna. Apesar de acabar exagerando um pouco nos efeitos sonoros em boa parte dos momentos, está bem acima da média - pelo menos, acima de boa parte do álbum anterior. Dá pra dar uma boa agitada nas danceterias (mas, preferencialmente, algum remix ousado para melhorar a experiência).

O vídeo-clipe também abusa de efeitos e é um dos mais interessantes de sua carreira. Aliás, nos lembra um pouco o vídeo-clipe que fizeram para a música "Two of Us" dos Beatles no relançamento do álbum Let It Be, o Let It Be... Naked, de 2003. Ou seja, não foi muito original, mas ainda sim bem mais, digamos, encorpado.

Recebeu boa recepção da rainha com um #7UK e uma fria do Tio Sam com #84US.


4 Minutes (Nível 2: Muito Bom)


E a nova empreitada da Madonna baseou-se, aparentemente, numa ideia que pode ter sido considerada boa: chamar gente mais nova e nos holofotes para lhe dar uma forcinha e posar de mais atual. O resultado?

"4 Minutes" é algo bem diferente e de fato atual. Uma batida legal e um clima dançante que, apesar dos esforços anteriores, não constava no álbum anterior. Não temos nada muito conceitual aqui, o que pode ser considerado vantagem, já que o objetivo tem sido a diversão de fato. Será que Madonna ainda tem algo para dizer? Bem...

Sobre a canção ser de fato algo bom, temos um ponto para Timbaland. Aliás, Madonna recorreu ao produtor num momento certo: enquanto ele ainda tinha algum interesse. Pois agora, depois que lançou a segunda edição de Shock Value (que acabou sendo muito inferior comercialmente e, obviamente, no quesito qualidade), fez o cara ir para debaixo de alguma ponte pedir doações e sumir de vez. Como se não bastasse, junto com o produto principal sempre vem um brinde inútil. Sim, estou falando do Justin Timberlake. Outro que também sumiu (e parece que para fazer cinema - sorte de quem gosta da música, azar para quem gosta do cinema). Sua participação é apenas regular, poderia ter sido substituída por de alguém com talento de verdade até para aumentar o interesse do projeto. E outra coisa também: Se aparece mais algum Justin no mundo da música, é melhor mandar matar antes que seja tarde!

O vídeo-clipe não faz muito sentido e serve apenas para mostrar os três principais envolvidos na tela ou para mostrar que Madonna, apesar de velha, ainda está bela e formosa. O que o Photoshop e dinheiro não fazem, não é?

E, é claro: O mundo não foi salvo...

Um Top 3 garantido nos EUA com um #3US e um #1UK na Inglaterra.


Give It 2 Me (Nível 3: Bom)


A divertida "Give It 2 Me", por incrível que pareça, foi produzida pelo The Neptunes. Deve ser a lei da probabilidade: uma hora esses caras tem que acertar. E como se não bastasse, o Pharrell participou mais diretamente da peça - tão malsucedido quanto o Timberlake, pois se Justin ao menos era notado, aqui se você espirrar não nota que Pharrell está participando. Para um backvocal qualquer e na ponte sua voz é genérica demais (aliás, como sempre é). Mas mesmo assim a urgência e clima Dance não são atrapalhados.

E o vídeo-clipe é mais um que pretende mostrar Madonna em roupas mais sumárias por motivos óbvios. Não perca tempo vendo, apenas ouça. Não é tão legal quanto o single anterior, mas ainda sim é melhor do que qualquer coisa do The Neptunes...

Os Estados Unidos não foram muito com a cara, deram um #57US. A Inglaterra já foi mais receptiva, #7UK.


Miles Away (Nível 2: Muito Bom)


Esta aqui me lembrou um pouco "Don't Tell Me" e "Love Profusion" e é tão interessante quanto elas. A Madonna combina bastante com acústico, apesar de suas origens não serem tão ligadas a isto. Tenho que admitir que o trabalho de Timbaland e (duvidosamente) Timberlake foi bem unificado aqui. A canção é envolvente e Madonna mostra, mais do que nunca, que aprender direitinho como se canta, tendo uma melhora vocal muito grande com o passar dos anos - e também ela quer muito mostrar que sabe tocar violão.

Sendo a primeira canção escrita para o álbum, chegou a ser primariamente composta no piano - se tivesse sido lançada com base neste instrumento também seria muito bom. A demo caiu na net para conferência.

O vídeo usado para divulgação foi retirado da última turnê da Madonna.


Celebration (Nível 4: Aceitável)

Madonna+-+Celebration.jpg (400×400)

Já foi escrito aqui no blog um artigo individual sobre a canção "Celebration", segue o link:

AMR - Celebration (Madonna) - postado originalmente em 21 de Dezembro de 2009.


Peço mil desculpas pela imensa demora para terminar esta série. Muitas coisas aconteceram durante este ano e me tomaram realmente muito tempo. Assim que possível vou atualizando o blog. A última parte desta série será a análise das canções que foram lançadas em trilhas sonoras de filmes e outros projetos!